segunda-feira, 14 de março de 2011

Algo está errado...

“(...) E aquelas pessoas em Kilowaia, Havaí, que constroem suas casas ao lado de um vulcão ativo e aí se perguntam por que tem lava na sala de estar.”
-George Carlin-

Na última sexta-feira (11/03/11), o mundo presenciou o 7º terremoto mais forte da história da humanidade e o pior tsunami da história do Japão. Esses grandes desastres naturais sempre me deixam com essa sensação de que alguma coisa está errada. Não falo apenas de terremotos, como os do Chile e do Haiti, mas também das chuvas, como no Rio de Janeiro, ou furacões como nos Estados Unidos, ou mesmo vulcões, como no Havaí, Japão e Islândia. Essas catástrofes nos mostram apenas o quão frágeis nós seres humanos podemos ser. Coisas assim nos tiram do pedestal em que costumamos nos enxergar, nos tiram do topo da cadeia alimentar e nos jogam debaixo de um monte de escombros. Mas nós, crédulos que somos, acabamos por culpar a Natureza, ou Deus, ou qualquer outro ser mais poderoso, real ou não, e nos esquecemos que fomos nós que nos colocamos em apuros.
Nós pensamos que somos capazes de viver em qualquer lugar do planeta e, em nossas maiores provas de arrogância, construímos muros e diques para segurar a água, prédios com sistemas amortecedores anti-terremotos, criamos lagos, secamos pântanos, retificamos rios e enterramos os córregos, tudo isso para “controlar” a natureza e submetê-la a nossas vontades. Em nossa soberba, fazemos da natureza nossa inimiga, quando esta deveria ser nossa aliada. Tiramos à força o que ela seria capaz de nos dar de bom grado.
Não foi assim por tanto tempo? Não vivemos harmoniosamente por milhares de anos? Não digo que devemos voltar a ser nômades, mas o planeta é muito maior do que toda a humanidade, a natureza é maior, e se é assim, como nós conseguimos causar tanto estrago? É como se fossemos um único formigueiro, capaz de pôr abaixo toda uma cidade, a ponto de não conseguirmos mais sobreviver nela. Nós nos gabamos de ser a única espécie capaz de raciocinar, e mesmo assim somos os seres vivos mais ignorantes da face da Terra, somos os únicos tolos o suficiente para destruir o próprio habitat.
Mas o que mais me intriga em toda essa história de humanos versus natureza, são os ambientalistas nos dizendo o que fazer para “salvar o planeta”. Nós não sabemos cuidar de nós mesmos, como podemos salvar o planeta! (mais uma do George Carlin). Na verdade, o planeta já passou por coisas muito piores que a humanidade e deve superar mais esse probleminha, aliás, se há alguém precisando ser salvo é o Homo sapiens. A natureza pode se recuperar facilmente, já fez isso antes dezenas de vezes. Nós, porém, se não mudarmos de atitude rapidamente, seremos sumariamente eliminados, como são todas as espécies incapazes de sobreviver em seu habitat. Seremos apenas mais um na enorme lista de seres extintos, só mais um beco sem saída evolutivo.
No entanto, nós ainda temos uma saída. Basta descer do nosso pedestal e passar a trabalhar junto com a natureza. As soluções existem. Fontes de energia renováveis, carros elétricos, cultivo inteligente, agricultura orgânica, “green building”... Tudo isso está ao nosso alcance. Basta repensar nossa posição, reprojetar nosso modo de vida e refazer nossas atitudes, afim de uma existência pacífica e harmoniosa.

P.S.: Acho que eu vou fazer de “Algo está errado...” um meme periódico, escrevendo sempre que perceber algum problema.

terça-feira, 1 de março de 2011

Arquitetura mãe das Artes

Para mim, a primeira e primordial arquitetura é a geografia
-Paulo Mendes da Rocha-

Música;
Dança;
Pintura;
Escultura;
Teatro;
Literatura;
Cinema.
Essas foram as sete artes escolhidas por Riccioto Canudo ao escrever seu famoso “Manifesto das Sete Artes”, em 1911. Mas... Cadê a arquitetura, hein senhor Canudo?
Quando estudamos história da arte, aprendemos que a primeira manifestação artística a que podemos nos referir são as pinturas rupestres, em paredes de cavernas, as mais antigas datando do período paleolítico, ou seja, mais de 10000 a.C., quando não havia nem ao menos o Homo sapiens.  Foi nesse período que o homem começou a morar em cavernas e, na minha humilde opinião, foi quando surgiu a arquitetura.
Muitos dirão que nessa época os homens ainda não construíam de fato, portanto não faziam arquitetura. Mas eu penso que a arquitetura surge quando o homem tentou pela primeira vez resolver seu segundo maior problema (sendo o primeiro a alimentação): o problema do abrigo. Começamos a morar em cavernas quando a última era do gelo assolou o planeta e este se tornou um lugar bastante inóspito para a maioria dos mamíferos. Dessa forma poderíamos dizer que a arquitetura foi a primeira arte que o ser humano foi capaz de fazer. Depois do degelo, começamos a realmente construir nossas casas, começando pelos primitivos dolmens e em poucos milhares de anos atingimos a capacidade construtiva que temos hoje.
Talvez o senhor Canudo tenha excluído a arquitetura de suas sete artes devido a um conceito de arte bastante aceito – que diz que arte é algo com suporte material feito para comunicar algo. Bem, nesse caso a arquitetura está realmente fora.
Pensando por esse lado, a arquitetura realmente não procura passar mensagens ou comunicar algo, mas sim resolver o nosso problema de dar abrigo. E dar abrigo não apenas a nós mesmos, mas também a tudo aquilo que criamos, dar abrigo a todas as outras artes. Assim sendo, construímos lugares para se ouvir e fazer Música, lugares para se apreciar e criar a Dança, belos museus para abrigar a Pintura e a Escultura, magníficos Teatros, enormes bibliotecas para amparar a Literatura e magníficas salas para consagrar o Cinema.
Digo “Arquitetura mãe das artes”, pois todas essas sete artes surgiram imersas na arquitetura. Foi nas cavernas onde surgiu a música, a dança, a pintura e a escultura, foi na polis grega que se consolidaram o teatro e a literatura e foi na moderna Paris que surgiu o cinema.